Hoje
o que escrevo nada tem que ver com comida. Na verdade, há já algum tempo decidi
que iria escrever este texto.
Não
é fácil partilhar algo tão íntimo mas foi tão importante para mim ler outros
relatos, outras histórias, que acho justo partilhar a minha também, pois
de alguma maneira posso estar a conseguir ajudar alguém, assim como tantas outras
pessoas me ajudaram a mim.
Quem
costuma visitar este meu cantinho sabe que voltei a ser mamã recentemente. Foi
uma caminhada com algumas curvas até ter segurado a minha pequena nos braços,
até termos segurado a nossa pequena nos braços. Quando o meu filho mais velho
tinha 2 anos e pouco, foi uma fase bastante complicada, por diversas razões,
mas mesmo assim achámos que estava na hora de tentar ter outro filho/filha.
Após alguns meses veio o tão esperado e desejado positvo. Foi no dia 25 de
Dezembro de 2015. Que alegria tão grande, um dia de Natal bem diferente que
marcaria uma nova fase. Que me transformou para sempre.
Este
estado de alegria durou bem pouco, durou menos duma semana na verdade. Comecei
com perdas de sangue. No começo eram uns borrões castanhos, hoje sei que eram
pequenas perdas de sangue. Liguei para o médico que me perguntou se tinha
dores, como não tinha pediu-me apenas para fazer repouso, não era preciso estar
de cama, mas nada de esforços. Assim fiz. Estes borrões nunca passaram. A dada
altura comecei a ter algumas dores, nada de especial mas era como se tivesse a
impressão que o período estava para chegar. Liguei para o médico novamente e
apenas me disse para manter o repouso. Até que um sábado à noite quando vou à
casa de banho percebo que aqueles borrões já não eram borrões eram mesmo
sangue. Entrei em pânico. O meu marido disse-me para ter calma, que estava muito
nervosa, que andava uma pilha de nervos. Acho que não percebemos o que estava a
acontecer naquele momento.
Eu
não fiquei sossegada, sabia que algo não estava bem. Já tinha estado grávida,
aquilo não era normal, não podia ser. No domingo assim que me levantei, mesmo
já não estando a ter nenhuma perda, decidi ir ao hospital. O meu marido não
pode entrar comigo no consultório pois estava com o nosso filho. Tive tanto
medo. As minhas pernas tremeram. A médica esteve a ver-me, fez-me uma eco,
estava de 7 semanas já daria para ouvir o coração, foi o que ela foi procurar
ouvir e ouviu. Ver o meu bebé naquele ecrã e ouvir o coração a bater foi um
alívio sem tamanho. No entanto, enquanto me observou ainda me tirou um coágulo
de sangue e disse-me: “Isto foi uma ameaça de aborto”.
Saí
de lá com a recomendação de repouso total, mais uns comprimidos, mas sem falsas
esperanças. A médica explicou-me que nada haveria a fazer se o aborto tivesse
de acontecer, quando há problemas a natureza resolve, explicou.
Tinha
a consulta com o meu médico marcada para a semana seguinte, com 8 semanas. Essa
semana passei de cama, sem perdas e sem dores. Pensei que estava a melhorar mas
quando chegou o dia da consulta, na sexta feira, voltei a ter os borrões e em
pé não estava nada bem, aliás andar até ao carro foi uma caminhada penosa.
Foi
quando o meu médico me estava fazer a eco, naqueles instantes, que consegui
perceber que algo não estava nada bem. Ele dava voltas e voltas com aquela
sonda…estava a demorar tanto tempo para me mostrar o que a outra médica tinha
mostrado tão rápido…foi então que me disse para me vestir, infelizmente não
tinha resultado. O coração do meu bebé já não batia.
O
médico deixou-me com o meu marido um pouco. Deu-nos algum tempo. O nosso
coração estava despedaçado. Explicou-nos que é algo que acontece muito e que
poderia acontecer de novo, pois numa nova gravidez as probabilidades são
precisamente as mesmas. Mas lembro-me de ele dizer que naquele momento iria
precisar de fazer o meu luto. Perguntou-me como queria proceder, se de forma
natural ou com medicação. Na opinião dele a forma natural seria melhor mas que
se não quisesse esperar me daria medicação. Preferi a forma natural e combinámos
que lá iria dali a uma semana para ver como estava o processo de abortamento.
Com
o passar das horas comecei a ficar nervosa com o facto de ter ali o meu bebé
morto…era assim que eu sentia. Lembrava-me da imagem do coração a bater, foi um
tormento. Fui à net, procurei por aborto espontâneo e aborto retido. Li imensos
relatos de como o processo de explulsão iria ocorrer. Foi bem complicado para
mim a espera. Acabei por decidir que se naquela semana não acontecesse ia pedir
a medicação, pois psicologicamente estava a ser muito complicado de gerir.
Foi
quarta-feira que aconteceu. Comecei com algumas dores durante a manhã, mas nada
de especial, nem foi preciso tomar qualquer remédio. Depois do almoço, estava
com um pouco mais de dores, deitei-me e foi quando comecei a sentir que estava
a perder bastante sangue. Não me assustei, sabia que teria de ser assim, mas
não tive coragem de me levantar durante 3 horas…não sabia bem o que ia ver e
faz-me muita impressão ver sangue. Como estava sozinha, acabei por ter de me
levantar para me limpar. Voltei a deitar-me pois continuei a perder muito
sangue, até que por volta das 19 horas fui à casa de banho e ouvi um barulho
que ainda hoje me lembro. Não dá para esquecer.
Disse
ao meu marido ( que entretanto já estava em casa) que tinha feito a explusão do
embrião, senti perfeitamente, mas sem dor física. Não tive coragem de olhar mas
o meu marido viu. Depois disto a hemorragia parou. Fiquei um pouco fraca mas
sem dores. Não foi um processo muito doloroso em termos físicos para mim.
Sexta-feira
quando voltei ao médico, ele confirmou que o útero estava limpo, que iria
perder ainda um pouco de sangue, durante 2 ou 3 dias mas que iria parar.
Disse-me para esperar 2 ciclos e que depois poderia voltar a tentar engravidar.
Mas naquele momento disse-me para ir passear com o meu filho. Fui com o meu
marido e com o meu filhote comer um gelado gigante nesse fim de semana, fui ver
o sol, andei de barco e ouvi os passarinhos a cantar. Foi muito importante.
Chorei
tudo o que precisei, várias vezes. Respeitei o meu tempo e vivi o meu luto. Li
muitas histórias como esta para perceber que havia um caminho depois daquela
dor toda. Mesmo quando não parecia possível superar, ler aqueles relatos fez-me
perceber que sim, havia um depois e que mesmo sabendo que nunca iria esquecer,
a vida ia continuar, por isso decidi partilhar esta história.
Se
tudo isto deixou marcas? Sim, deixou. Vivi a gravidez da minha filha com mais
medo, principalmente durante o primeiro trimestre, mesmo sabendo que há coisas
que não controlamos só quase com 5 meses é que consegui libertar-me um pouco
mais, começar a pensar no quarto, nas roupinhas, nesse tipo de coisas. A sombra
do medo esteve presente sempre, não vou mentir, mas se é verdade que há coisas
que não controlamos, também é verdade que podemos escolher a forma como as vamos
viver. Viver ou não viver no medo é uma escolha nossa. Mesmo tendo esta noção
sei que acabei por ter mais medos do que gostaria, mas fiz o melhor que
consegui.
A
forma como hoje lido com a minha filha também é fruto de toda esta vivência,
estou mais galinha. Aprendi a dar mais valor ao que tenho. É complicado
explicar isto mas existe em mim hoje uma profunda gratidão à vida, a Deus,
duma forma que não conseguia sentir antes disto, mesmo já sendo muito grata por
tudo.
Acho
que devemos sempre aprender com o que nos acontece, foi o que tentei fazer. Foi
preciso dar tempo ao tempo. Nunca vou esquecer mas segui em frente. O choro da
minha filha quando nasceu foi o começo duma nova etapa. Tenho dois sóis na
minha vida, um marido que amo e que me ama, só posso agradecer e ser feliz.
Perceber
que a vida segue, sentir a superação desta dor nas outras pessoas ajudou-me a
superar a minha dor, por isso aqui está o meu testemunho. Pode ser que ajude
alguém a perceber que o sol vai voltar a brilhar também.
Foste uma valentona...muito corajosa e tiveste o teu presente, que agora tens nos teus braços. Parabéns e Felicidades e tudo de bom para ti e para os teus tesouros!
ResponderEliminarObrigada Mariana. Beijinhos
EliminarÉ linda a tua filha! Ser mãe de menina e diferente, eu acho! E depois de tudo o que passaste, certamente será ainda mais especial. Um beijinho grande e muitas felicidades
ResponderEliminarP.s.: tenho a certeza que o teu testemunho será muito importante para outras mães (casais) que estão a passar pelo mesmo.
Eu estou mais galinha agora, mas ´fruto de tudo o que passei. Aunda não consigo avaliar bem o resto ela ainda é muito pequenita! :)
EliminarBeijinhos :)
Que bom que foi uma etapa superada Ana. Infelizmente na vida temos estes tropeços e nem tudo corre como gostaríamos. O teu testemunho de certeza vai ajudar muitos outros pais que estão a passar pelo mesmo. Muita saúde para a tua menina, e para o menino claro. Que a partir de agora o sol brilhe sempre.
ResponderEliminarBeijinho
Joana
Espero do fundo do coração que sim. Obrigada Joana.
EliminarBeijinhos Ana
Que fotos tão amorosas! :)
ResponderEliminarChega a dar um aperto no coração ao ler o teu relato, mas acredito que possa ajudar quem passa pelo mesmo. Foste muito forte e agora tiveste o teu final feliz. :) Beijinhos
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Obrigada Inês. Beijinhos :)
EliminarA tua bebé é um encanto e ainda bem que tudo correu bem desta vez.
ResponderEliminarSei bem o trauma que é perder um bebé muito desejado. Passei por isso da minha primeira gravidez e o desgosto foi brutal. Felizmente vieram dois filhos lindos depois.Adorei o teu testemunho e tenho a certeza que há de ajudar muitas mulheres que infelizmente passam pelo mesmo.
Bjn
Márcia
É sem dúvida um desgosto muito grande. Ainda bem que também tiveste a felicidade de ter os teus pequenos nos braços. :)
EliminarBeijinho Ana
Querida Ana, especialmente agora que também estou à espera da minha pequenina princesa, consigo perceber muito bem as tuas palavras. Imagino o que tenhas passado. O medo de que algo aconteça durante a gravidez assola-nos no dia-a-dia.
ResponderEliminarUma nova estrelinha nasceu e trouxe consigo essa linda bonequinha que seguras nos teus braços :)
As maiores felicidades do mundo para ti. <3
Um grande beijinho!
www.petiscana.com
Obrigada Ana. Temos de aprender a confiar em Deus ( se acreditares) ou na vida...Um beijinho para ti ( qualquer dia és tu que seguras a tua bonaca nos braços :) ).
EliminarBeijinhos Ana
Adorei ler o teu testemunho, um testemunho de coragem que tenho a certeza que irá ajudar muitas mulheres que passaram ou estão a passar pelo mesmo. Muitos parabéns e desejo-te muitas felicidades.
ResponderEliminarPS: tens uns filhotes lindos.
Beijinhos ...
Blog: Guloso qb ... de Carla Ramalho
Obrigada Carla. Beijinhos :)
EliminarNão conhecia o teu blog e assim que chego, vejo um testemunho destes...foste uma mulher muito corajosa. Fiquei sem palavras...Um texto maravilhoso, que certamente inspirará outras mulheres e os respectivos companheiros. Que sejam muito felizes os 4. O teu sorriso diz tudo! beijinhos
ResponderEliminarhttps://saboresdoninho.blogspot.pt/
Obrigada Claudia. Beijinhos
EliminarNinguém está preparado para lidar com a possibilidade de aborto, depois da melhor notícia. Vamos agindo conforme nos orientam até entendermos tudo. Vamos buscar forças onde desconhecemos, e finais como este, são a razão de continuar.... De dar-nos a oportunidade de voltar a ser feliz.. sê feliz desfruta da tua família, parabéns pela ternura.
ResponderEliminarGrata pelas palavras Vanessa. Beijinhos Ana
EliminarUm relato cheio de emoção, uma etapa superada e duas crianças maravilhosas!!!
ResponderEliminarVotos de muitas felicidades!
Beijinhos.
https://opecadomoraemcasa.blogspot.pt/
Obrigada :) Beijinhos Ana
EliminarUma vez mais muitos parabéns! Beijinhos.
ResponderEliminarParabéns um filho é uma bênção nas nossas vidas.
ResponderEliminarMuita felicidade.
Beijinhos
A maior benção de todas. Agradeço todos os dias. Um beijinho Sara
EliminarMinha querida, estou sem palavras! Foste muito corajosa, muito mesmo. A vida acabou por te compensar... Tal como disseste, tens 2 filhos lindos, saudáveis e um marido que vos ama. Muitas felicidades aos 3 :)
ResponderEliminarBeijinho
Blogue Recanto com Tempero
Obrigada Ana. Um beijinho gigante.
EliminarCostumo dizer que tenho o coração na boca e neste momento os olhos cheios de lágrimas. Infelizmente nunca consegui ter filhos, já tenho 40 e fiz tudo o possível e imaginário.... não sei se algum dia vou sentir o cheirinho do meu bebe no meu colo (enquanto há vida à esperança) mas adorei ler o teu testemunho e a vossa vitória. Muitos beijinhos e muitas muitas felicidades.
ResponderEliminarEnquanto houver por onde temos de ter esperança, mas acima de tudo temos de ser felizes, com o que temos.Se é algo que desejas muito não desistas, mas só se isso também não te causar sofrimento. Confia na vida, em Deus se acreditares. Eu acredito que o que tem de ser será. Um grande beijinho para ti
EliminarMuito complicado (eu aqui a ler rápido para não chorar)!
ResponderEliminarAgora é ser feliz, menina!!!
Beijinhos :)
Mesmo! Beijinhos Ana
EliminarQue amor❤
ResponderEliminarParabéns!! Que Deus abençoe essa família mais e mais!!
Bjs.